domingo, 30 de janeiro de 2011

MEU QUINTAL



Era lá onde o tempo não passava.... Não havia noite, dia, não havia nada.
À parte do meu mundo estava a porta dos fundos, a saída para a fantasia. Lá sim, tudo acontecia.
Afora as obrigações era  doce ritual. Brincadeiras, sonhos, imaginação...

Um fogareiro pequeno que eu chamava de fogão. Eram horas pra cozinhar o feijão. Um chamado e eu voltava à realidade, hora do almoço! Então eu saía e ia comer de verdade, mas não por fome, apenas para voltar rapidamente, pois a imaginação já alimentava-me inconsciente.

O feijão ainda lá estava, durinho entre os dentes quando provava. Mas isso não importava...
Ah! Meu quintal...meu delicioso refúgio. Lugar seguro onde eu recebia quem queria, onde eu fazia e acontecia.

Até que um dia o quintal virou piscina e adolescentemente as fantasias viviam bronzeadas. Meu quintal agora tinha nova fachada. Mas continuava meu quintal, onde ouvia minhas músicas, levava as amigas, jogava, sorria e novamente ficava como queria, ali, sozinha, afinal a função do meu quintal era fazer-me companhia, acreditar em meus sonhos e colorir minhas fantasias.

Mas um dia tive que deixá-lo, a vida me empurrara para a próxima etapa. Bem mais real e sem quintal, onde muitas vezes realidades cruas e duras me atacaram e me vi sem a porta dos fundos... Era a vida tet-a tet impedindo-me de sair de mansinho quando as coisas não iam bem...

Então descobri que ninguém vive sem um quintal e resolvi trazê-lo de volta. Ele está aqui, como sempre esteve, dentro de mim e ainda corro refugiando-me dos ataques da vida, das decepções com as pessoas, mas também compartilho as alegrias e as tantas coisas boas.

Agora as horas costumam passar mais rápido sim, pois a vida real chama-me mais vezes. Mesmo assim, é lá que revejo meus sonhos, que vivo minhas fantasias, que enxugo minhas lágrimas, que caio em abandono...

E ai de mim se não fosse o meu quintal. Ai de mim se não houvesse a porta dos fundos... Ai de mim se eu vivesse apenas em um mundo.

(Taciana Valença)

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