quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

FALSOS ARGUMENTOS


Queixei-me aos ventos
Meus falsos argumentos
Escorregadios e trôpegos
Tão frios em seus lamentos
Queixei-me aos ventos
Meus sérios inventos
Minha fábrica de tormentos
Meus inquietos intentos
Meu morno contentamento....

(Taciana Valença)

Foto: Taciana Valença

segunda-feira, 27 de junho de 2011

SEM DISFARCES


É preciso assepsia da alma....
muita calma
refazer esboços
Cortar pescoços
Salvar a quem condena
...
...Esmiuçar...
Sem ódio
Sem pena...
Suspender a bagunça
Aprofundar-se
Recuperar-se
Transformar-se
Quem sabe assim
Sem disfarces
Você se ache!

(Taciana Valença)

LÁ SE VÃO MEUS VERSOS....

Lá se vão meus versos
Tão sem rimas....
Como rios sem cursos
Sem jeito, sem leitos...
Como mares pelo avesso
Num sarrabulho de emoções
Onde a colina adormece
Antes do encontro
Num desaponto....
Lá se vão meus versos...
Tão sem rimas
Tão sem nexo!

(Taciana Valença)

domingo, 26 de junho de 2011

GARIMPOS



Renasci no obscurantismo
da modernidade....da volatilidade

No Nietzschismo cambaleante
o regionalismo se fez Freyre
nas raízes e deveres

Em pós-modernices marcantes
vivemos sensos e consensos
tal qual movimentos

Navegamos na diversidade contemporânea
Tempos e estilos variados, trabalhados ou duvidosos
Garimpos do passado com banhos d’futuro
Pela escrita vale tudo!

(Taciana Valença)

domingo, 19 de junho de 2011

UM TRAGO


 
apenas um trago
longo e penetrante
um doce meio amargo
...
ou um amargo doce?
o que fosse.....
"entrou pela perna do pinto,
saiu pela perna do pato?"
e agora, o que faço?
um trago, penetrante e doce...
o que fosse...
apenas um trago
meio doce, meio amargo
e daí?
é assim que te trago

domingo, 12 de junho de 2011

@@ esboços @@


caminhamos por instinto
andamos contra o vento
driblando argumentos
atrás dos pensamentos...
falando bobagens
 poesias e vontades
rasgando o peito
aberto aos efeitos...
onde comtemplamos
um ao outro
e por fim encontramos
apenas esboços....

(Taciana Valença)

DESCANSADO SILÊNCIO


 
 
há no silêncio do descanso
o prazer mais puro
onde a prosa adormece
e a poesia se faz
ali, sozinha
...
sem ninguém mais.....
(Taciana Valença)

sábado, 7 de maio de 2011

Existem momentos tão especiais em nossas vidas que sem pensar dizemos e prometemos qualquer coisa.
Essa semana, chocou-me as imagens de uma mãe na enchente, prestes a dar a luz a seu filho, saindo num barco, fugindo das águas....
Fiquei imaginando o que se passaria naquele momento em sua cabeça. Quantas incertezas, quanta insegurança, quanto sofrimento.... Tenho certeza que naquele momento ela pensava mais em seu filho do que nela mesma.
Lembrei-me da promessa ingênua que fiz a um dos meus filhos um dia, num momento lindo entre nós. Eu amamentava numa cadeira de balanço e aqueles olhinhos fixos em mim pareciam dizer: "estou em suas mãos mãe, obrigado por este momento....".
Diante disso, tão naturalmente eu disse: "prometo que nada de mal vai te acontecer meu filho". Promessa inocente. Como alguém pode prometer isso? Desde que nascem eles se tornam filhos da vida, do mundo e de todas as inseguranças que cercam nossos destinos. Mas coração de mãe muitas vezes não pensa. Age por instinto, pelo instinto mais maravilhoso que pode haver no mundo: o instinto do amor.....E o amor...ah! o amor...quantas promessas são ditas em nome dele. Nada mais puro e ingênuo que o amor. Falo do amor verdadeiro, do amor que doa, que nada, absolutamente nada pede em troca, o amor que falta a esse mundo, o amor de mãe.....
Se todo mundo tivesse esse tipo de amor em seus corações, o mundo estaria muito melhor. Todos seriam mais solidários, menos egoístas e consequentemente mais felizes.
Pois mãe passa por cima das próprias dores, disfarçando-as para que seus filhos não sofram. Mãe acredita, ajuda, sofre junto, valoriza cada conquista, elogia, aconselha, estimula.... ah..se os corações do mundo fossem assim!!
A mãe que é capaz de não comer para que seus filhos comam, de passar a noite em claro esperando no sofá, de sofrer junto como se os corações fossem unos, de chorar de emoção a cada pequena conquista, de dar sermões por por mais de uma hora e arrepender-se morrendo de vontade de beijá-los, mas segurando o tranco por acreditar que suas palavras são eternos ensinamentos. A mãe que acha que os filhos nunca crescem e que liga várias vezes ao dia só pra sentir, pela sua voz, se está com algum problema. A mãe a quem recorremos quando as dores do corpo e da alma parecem insuportáveis e cuja presença parece bálsamo nessas dores...
Hoje faço essa mínima homenagem a essas mulheres que tudo suportam em nome do amor de mãe e penso especialmente naquelas que estão desabrigadas, sem ter o que comer e na agonia de querer proteger seus filhos e dar-lhes abrigo, comida, cama, roupas e cobertores e simplesmente não poderem. E por cada grito de desespero e lágrima de desesperança e sofrimento peço uma oração, um olhar, uma mão caridosa e a proteção daquele que pode mais do que nós, por que essa dor é uma das dores que jamais poderá ser descrita com palavras.
Hoje gostaria de desejar um "Feliz Dia das Mães" a todas as mães do mundo, mas aperta-me o coração saber que felicidade passa longe de tantas e tantas mães que sofrem pelos seus filhos e por elas mesmas.
Deixo então apenas essa mensagem, que saiu de repente, sem a menor pretensão de ser perfeita, mas vinda de um coração de mãe que ama como mãe e como filha e que entende como a máquina mãe funciona.
Taciana Valença
Maio 2011
 

quarta-feira, 13 de abril de 2011

@@ FAZER O QUÊ?@@

Fazer o quê
se todas as bordas eram curvas
e o único jeito
de pegar a reta
era sair pela tangente?

(Taciana Valença)

@@ ÁVIDO @@

No ávido
Não mais habita o havido
Pois que com este
Já não há dívidas
Mornas memórias
D’um acontecido
Um havido evasivo....
Avidez sim...
Intempestiva e surda
Impávida
Êxtase maior
No que a si absurda!

(Taciana Valença)



segunda-feira, 11 de abril de 2011

@@ MINHAS ENTRELINHAS @@



não importam os mistérios
que rondam minhas entrelinhas...
são tão alma, tão fundas, tão minhas....
talvez a mistura que guardo
das intensas vidas que em mim passaram....
da cigana sem apegos
a andar descalça pelo mundo
da índia que amava a natureza
mas com um suave "quê" de tristeza
da força negra que herdo d'antes
dos tempos por onde andei
que nem mesmo me revelam
o que ainda serei...
portanto, não me leias pelas entrelinhas
pois nem mesmo eu sei
para onde meu mundo caminha....

(Taciana Valença)


##sentimentos plissados ##


Foram-se as golas
As gomas
Os engomados respeitados...
O carinho drapeado
O sem-jeito plissado
O lenço envergonhado
O sentido do puro
O sabor do pecado...

(Taciana Valença)

domingo, 10 de abril de 2011

## PRESSÁGIO ##

há um mundo
girando rápido
deixando marcas
movendo as águas...
tão tonto
tão solto
tão firme
tão louco...
há um tempo
seguindo um curso
na sóbria retidão
dos justos...
há um encontro
quem sabe marcado
com data e hora
um presságio....

(Taciana Valença)

quarta-feira, 30 de março de 2011

@@ não me importa @@


não importa
que não se importe
com o que realmente importa
mas o que realmente importa
é o que me importa
independente
de a quem possa importar

(Taciana Valença)

Quem dera eu fosse ela...


Não, eu não sou mais a pessoa que conheceu...
Ela partiu, lembra?
Com aquela mesma mochila que gostava de usar...
Com o tênis que gostava de andar
Com os sonhos que vivia a sonhar
Não, eu não sou mais a pessoa que conheceu...
Ela apenas me deixou em seu lugar...
Quem dera eu fosse ela


Que sempre sabia o que fazer
E sempre tinha certeza da decisão a tomar...
Ah! Por que não me contou seus segredos antes de me deixar?



Quem dera eu fosse ela...
Que parecia ter o mundo aos seus pés
Tomando decisões sem medo de errar
Segura e única a tudo enfrentar

Ah, quem dera eu fosse ela
Que parecia carregar a certeza da felicidade
Que confiava em si e jamais era covarde
Ah! Quem dera eu fosse ela....
Não tinha nem mesmo medo de perder
E tanto confiava nisso
Que acostumou-se a vencer


Ah! Quem dera eu fosse ela...
Mas ela me deixou em seu lugar
Talvez ela agora tivesse na ponta da língua
A resposta, para o que acaba de me perguntar
Mas eu não sou ela...
Ela partiu e não sei onde está
Por isso hoje não tenho a resposta
Para o que acaba de me perguntar!
(Taciana Valença)




sábado, 26 de março de 2011

AMARRAS

por que tão preso?
travado, sozinho
parecendo um ser
perdido no mundo
assim, tão preso?

preciso de chuva
que lave-me a alma
preciso do grito
que guardo na calma
preciso explodir
antes que me engulam!
(Taciana Valença)

sexta-feira, 25 de março de 2011

segunda-feira, 21 de março de 2011

Inundáveis Lembranças...



Desesperada voltei...
A casa estava lá, do mesmo jeito. As paredes tinham as mesmas cores.
Podia até ouvir o barulho da família. Os dias de festas, papai apressando para a escola, os amigos jogando no terraço... Mas os pensamentos faziam eco.... Faltavam os móveis, os amigos, a família....
Mas eu tinha que buscar aquele documento. Haveria de estar por lá? Provavelmente não, não depois de tanto tempo.
Nos ouvidos escutava o apito do silêncio.
Entro no quarto que fora meu. Procurei no guarda-roupas, nas gavetas, olhei também nos outros quartos.
Nada. Não havia nada além do cheiro daquelas alcatifas mofadas pelo tempo.
Comecei a espirrar enquanto andava pelos outros aposentos... Lágrimas escorriam.
Vieram as lembranças. Mas lembranças só não bastavam.
Tinha que achar o documento!
Mas nada! Não encontrei nada!
De repente águas pareciam inundar a  casa.
Vinha de todos os lados. O que teria acontecido? Seria água da piscina?
Parecia lavar tudo.  Mas quanta água!!!!
Olhei então para as escadas. Um corpo era arrastado.
Era o corpo do escritor! Meu Deus, por que ele estaria ali?
Procurava o mesmo documento que eu?
Que loucura. Só podia ser um pesadelo!
O corpo desceu boiando e a cabeça encostou em minha perna.
Num ímpeto movimentei-me para correr.
Mas nesta hora ele abriu os olhos e numa gargalhada que jamais ouvi antes falou:

-Peguei você!

(Taciana Valença)

domingo, 6 de março de 2011

## ILUSÕES ##

As ilusões são pássaros
Que prendemos em gaiolas
Alimentando-as de sonhos
Sem deixarmos ir embora

Como se dominássemos
Ou sobre as mesmas tivéssemos poder
Mas apenas temos o poder de engaiolá-las
E alimentá-las presas a nós

Mas as ilusões tem asas
E precisam de liberdade
Precisam ser livres
Para tentarem ser verdades

Enganamo-nos prendendo-as a nós
Como se próximas fossem menos ilusões
E tentando enganá-las em vão
Vivemos presos, sem o céu, sem o chão...

(Taciana Valença) 

sábado, 26 de fevereiro de 2011

SANTO CÍNICO


Moçoilas
Aos seus pés ajoelhavam

Promessas faziam
Pediam, rezavam...

Acreditavam, confessavam
E em vão esperavam...

Era um Santo Cínico
que vivia de frozô

Enganando mocinhas
Que acreditavam no amor...

Cinicamente feliz, de cabelo cacheado
Tinha mais era a cor do pecado...

Olhar de mormaço
D'um calor sedutor

Acreditava-se que era mesmo
O Santo do Amor

Mas as promessas
No armário arquivadas

Fazia-o sorrir
Das moçoilas apaixonadas...

Que nem de longe imaginavam
Que era tudo conversa fiada

(Taciana Valença)



quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

LEMBRANÇAS....



A maiora das crianças já tinham ido embora. Eu sempre ficava até mais tarde porque minha mãe trazia meus irmãos que estudavam no turno seguinte. Havia mudado de bairro, de escola, de idade....e de  quebra, ganho um irmãozinho, desdentado, gorducho e com o qual eu não tinha nenhuma espécie de diálogo (óbvio).

O tempo passava e aquela música triste me dizia que eu poderia estar esquecida. Algumas coisas  tristes, misturadas com um pouquinho já de fome, normal, pelo adiantado da hora, traziam-me pensamentos melancólicos..., talvez melancólicos demais para alguém da minha idade. "E se tivesse acontecido alguma coisa?",  "E se realmente me esqueceram aqui?", "E se minha mãe desaparecesse? Quem cuidaria de nós, já que meu pai tinha que trabalhar pra sustentar os filhos?". Escondia o rosto para que os funcionários da escola não percebecem as lágrimas que rolavam diante dessas perguntas. E desde cedo, já com os botões da farda, eu pensava: " A vida não é fácil".

É, a vida sempre me pareceu uma responsabilidade enorme, como se algo muito valioso nos tivesse sido emprestado. Emprestado sim, pois a responsabilidade neste caso seria ainda maior, pois um dia, de alguma forma, teríamos que devolver ou prestar contas. Como? Eu não sabia, como ainda não sei.

Jamais esqueci daquela sensação. A solidão daquele momento. A tristeza da impotência da espera. O medo do abandono. As incertezas da vida que desde então me intrigavam.

Ultimamente tenho sentido essa sensação. Não estou à espera da minha mãe e graças a Deus ela nunca me esqueceu, nem mesmo sei o que ainda espero da vida, mas este nó na garganta me trouxe àqueles dias de volta e por mais que tenham pessoas em minha volta eu pude sentir, novamente, a terrível solidão que senti naqueles dias da minha infância.

(Taciana Valença)

Perto de Casa Felipe Macedo 1

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

sábado, 5 de fevereiro de 2011

ANGÚSTIA


 
 
Ah! Hiperestésica alma!
A induzir-me às ausências
Fazendo-me cega nas noites
A ouvir coisas que bem sei
Não caberiam a mim sabê-las
...
Melhor seriam
Eternamente ocultas
Que arrostando-me
Com o dedo no gatilho
Nessa angústia
Como a andar sobre os trilhos
Aguardando o impacto
Do já cansado estribilho!

(TACIANA VALENÇA)

domingo, 30 de janeiro de 2011

MEU QUINTAL



Era lá onde o tempo não passava.... Não havia noite, dia, não havia nada.
À parte do meu mundo estava a porta dos fundos, a saída para a fantasia. Lá sim, tudo acontecia.
Afora as obrigações era  doce ritual. Brincadeiras, sonhos, imaginação...

Um fogareiro pequeno que eu chamava de fogão. Eram horas pra cozinhar o feijão. Um chamado e eu voltava à realidade, hora do almoço! Então eu saía e ia comer de verdade, mas não por fome, apenas para voltar rapidamente, pois a imaginação já alimentava-me inconsciente.

O feijão ainda lá estava, durinho entre os dentes quando provava. Mas isso não importava...
Ah! Meu quintal...meu delicioso refúgio. Lugar seguro onde eu recebia quem queria, onde eu fazia e acontecia.

Até que um dia o quintal virou piscina e adolescentemente as fantasias viviam bronzeadas. Meu quintal agora tinha nova fachada. Mas continuava meu quintal, onde ouvia minhas músicas, levava as amigas, jogava, sorria e novamente ficava como queria, ali, sozinha, afinal a função do meu quintal era fazer-me companhia, acreditar em meus sonhos e colorir minhas fantasias.

Mas um dia tive que deixá-lo, a vida me empurrara para a próxima etapa. Bem mais real e sem quintal, onde muitas vezes realidades cruas e duras me atacaram e me vi sem a porta dos fundos... Era a vida tet-a tet impedindo-me de sair de mansinho quando as coisas não iam bem...

Então descobri que ninguém vive sem um quintal e resolvi trazê-lo de volta. Ele está aqui, como sempre esteve, dentro de mim e ainda corro refugiando-me dos ataques da vida, das decepções com as pessoas, mas também compartilho as alegrias e as tantas coisas boas.

Agora as horas costumam passar mais rápido sim, pois a vida real chama-me mais vezes. Mesmo assim, é lá que revejo meus sonhos, que vivo minhas fantasias, que enxugo minhas lágrimas, que caio em abandono...

E ai de mim se não fosse o meu quintal. Ai de mim se não houvesse a porta dos fundos... Ai de mim se eu vivesse apenas em um mundo.

(Taciana Valença)

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Ingrata Herdeira



não culpe-me o malandar da carruagem
que sobre a estrada trepida insegura
a caminho do logradouro

culpe pois a pressa
ingrata herdeira do tempo
que transforma em vento
todas as possibilidades de pensamentos...

(Taciana Valença)

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

PONTO CEGO

Quiçá seja tudo metade
Metade do sonho
Metade da realidade
Metade da fantasia
Metade do choro
Metade do riso
Metade da alegria
Metade da tristeza
Metade da mentira
Metade da verdade
Metade da melancolia
Metade da felicidade
Ha...h este ponto cego
Onde o sol não invade
Onde mora meu inverno
Dos dissabores desconfortáveis
Da filosofia sombria
Que mata no gelo da noite
A vida besta das trivialidades!

(Taciana Valença)